Os gregos antigos sempre imaginaram que o lugar daqueles que faziam e jogavam os raios e os trovões fosse o Monte Olimpo, morada de Zeus, lugar de ambrosia, leite e mel. Ficaram surpreendidos ao ver que os norte-americanos haviam confinado seus fazedores de raios e trovões num prosaico e desconfortável acampamento militar, no meio do deserto do Novo México, em Los Alamos. Foi para lá que, desde 1942, Zeus-Oppenheimer, um brilhante físico, pós-graduado na Alemanha, arregimentou e liderou uma pequena república de cientistas com o objetivo de executar o Projeto Mannhattan. A partir daquele momento, a fabricação da Bomba Atômica pelos norte-americanos foi um dos mais bem guardados segredos militares da história.
Os antecedentes da Bomba Atômica
Desde que, em 1931, a dupla Cockroft e Walton, conseguiu desintegrar o átomo, façanha considerada impossível, as coisas se precipitaram. De Enrico Fermi, passando por Albert Einstein e os Joliot-Curie, confirmava-se a possibilidade de provocar uma reação em cadeia que terminaria numa explosão atômica. Foi então que em 1938, depois de ter recebido a visita de um físico refugiado chamado Leo Szilar, Einstein, o mais famosos cientista do século XX, até então um pacifista convicto, temeroso de que os físicos a serviço do nazismo pudesse também alcançar a fabricação de uma bomba daquele tipo, escreveu para ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt.
Einstein alertou o presidente sobre as conseqüências daqueles progressos da física moderna que permitiriam, em breve, a feitura de uma super-bomba. Naquela época Einstein, na sua santa ingenuidade de homem sábio, pensou que a bomba seria poderosa o suficiente para poder explodir um porto inteiro, ou quiçá, um conjunto de quadras de uma cidade. Seja como for, recomendou a Roosevelt a sua imediata construção.
A catástrofe e as culpas
Passados 28 meses, ao custo abismal de 2 bilhões de dólares (do valor daquela época), no dia 16 de julho de 1945 deu-se a primeira explosão experimental no Deserto de Álamo Gordo, no Estado de Nevada. Foi um sucesso. O passo seguinte foi jogá-la sobre o Japão, que ainda resistia à ofensiva aérea norte-americana. A decisão final foi tomada pelo Presidente Harry Truman, que, desde maio de 1945, havia sucedido o falecido Roosevelt.
No dia 6 de agosto de 1945, às 8:15 da manhã, pelo horário local, o avião "Enola Gay", o B-29 do coronel Paul Tibbetts, sentiu-se aliviado ao desafazer-se da "Little Boy", o artefato atômico de 4 t. que ele carregara penosamente durante as seis horas de vôo até chegar sobre o alvo. A tripulação recebeu uma onda de impacto daquela nuvem de 9 mil metros de altura, resultante da explosão, mas nada se equiparava com que ocorria lá embaixo na ex-cidade de Hiroshima. A mesma operação foi repetida 3 dias depois, em 9 de agosto de 1945, sobre a cidade de Nagasaki.
Tempos depois Julius Oppenheimer, com a consciência atormentada pelos estragos causados pela super-bomba, comentou que "esses físicos conheceram o pecado de uma forma tão crua que nem a vulgaridade, o humor ou o exagero podem apagar... e esse é um conhecimento do qual eles não podem lançar mão". Provavelmente, se os Estados Unidos tivessem sido derrotados na guerra contra o Japão, o Presidente Harry Truman, o general Leslie Groves, apelidado de o General Atômico, o coronel-aviador Paul Tibbetts, e os físicos chefiados por Oppenheimer, certamente seriam julgados por crimes contra a humanidade. Afinal, o artefato mortífero que jogaram sobre as duas cidades nipônicas, ceifou a vida de mais de 200 mil civis, exterminadas numa área considerada não-estratégica. Mas a vitória, como sempre acontece, absolve tudo e, aos olhos dos americanos, tornou todos eles heróis.