Em 1603, três anos após a batalha de Sekigahara, Tokugawa Ieyasu foi reconhecido pelo poder imperial como o líder da ordem feudal e estabeleceu um novo Bakufu na cidade de Edo (atual Tokyo) que deu o nome a este período. Durante a primeira fase do Bakufu Tokugawa, governou Ieyasu e o seu filho, o segundo shogun Hidetada, que teve um papel determinante na política. Foi uma época onde se fez sentir a ação direta dos shoguns. Contudo, gradualmente, a ação do Bakufu adquiriu o estilo já tão característico de qualquer governo japonês, onde em vez de ser a alta autoridade a demonstrar uma liderança ativa, funcionava um consenso geral em altos círculos e com a aprovação do superior.
Entre os pilares mais importantes da política do Bakufu no início do período moderno contam-se as medidas tomadas em relação à corte imperial e às ordens religiosas. O Bakufu impôs alguns regulamentos severos à corte e exerceu sobre ela um grande controle, obrigando o imperador a dedicar-se a atividades não políticas.
O Bakufu Tokugawa também exerceu um controle severo sobre o mundo religioso e promulgou leis muito específicas para os templos das diversas seitas. Embora o xogunato procurasse controlar todos os grupos religiosos, haviam alguns grupos que não tinham a sua aprovação e que mesmo assim pretendiam resistir ao seu controle. Os grupos mais representativos eram os cristãos e um ramo da escola budista de Nichiren, a seia Fuju Fuse. O Bakufu expulsou os cristãos, depois limitou o comércio estrangeiro e proibiu os japoneses de fazer viagens por mar e, finalmente, em 1639, forçou o isolamento (sakoku) com o ocidente.
A crise e as reformas na política do Bakufu
Embora o Bakufu Tokugawa fosse uma instituição poderosa, não estava imune à mudança. Durante mais de duzentos anos de governo Tokugawa, os shoguns e os seus oficiais seniores eram obrigados a responder a uma série de problemas administrativos criados pelas alterações da sociedade e por problemas no interior do próprio Bakufu.
O maior problema com o qual o Bakufu se confrontava era a crescente agitação dos samurais independentes (ronin). Durante o reinado dos três primeiros shoguns, o Bakufu substituiu ou demitiu muitas das antigas casas de daimyos e promoveu vassalos próximos de Tokugawa à categoria de daimyo. Consequentemente, os seguidores dos daimyos demitidos perderam os seus lugares e tornaram-se ronin.
Não é de se estranhar que a ira destes samurais empobrecidos tivesse caído sobre o Bakufu. Em 1651, depois da morte do terceiro shogun Tokugawa, Iemitsu, o Bakufu descobriu uma intentona por parte Yui Shosetsu (1605-1651) e de outros ronin frustrados, para se aproveitarem da morte do shogun e desencadearem sublevaçõe em Edo, Osaka e Sunpu e derrubarrem o Bakufu. Shosetsu cometeu seppuku (suicídio) e os companheiros foram capturados. Ao tomar conhecimento deste incidente, o Bakufu tentou dar resposta ao problemas dos ronin e adotou uma política mais flexível. O motivo principal pelo qual foram confiscados os direitos aos daimyos consistia na falta de herdeiros e na consequente extinção da linhagem daimyo. Aligeiraram-se as leis que regulamentavam a adoção e a sucessão dos herdeiros, bem como as proibições relativas a adoção póstuma, após a morte repentina do daimyo. O Bakufu também alterou a sua política de controle sobre os daimyos, cujos familiares tinham de o servir e de habitar em residências especiais, designadas pelo próprio Bakufu. Desta forma, os aspectos mais opressivos da política de controle dos daimyos foram-se suavizando e estes ganharam uma maior independência em relação ao Bakufu. Este também proibiu a prática do suicídio (junshi) pelos samurais quando da morte do seu senhor. Em alguns casos, os vassalos que não desejavam cumprir aquele ritual eram pressionados a praticaram seppuku contra a própria vontade. Numa tentativa de alterar os rudes costumes dos samurais da época das guerras e de encorajar uma forma de bushido ("o caminho do guerreiro") mais adequada à época de paz, o Bakufu proibiu este junshi sem sentido. Interditou também a homossexualidade, prática comum entre os daimyos e seus vassalos e que também contribuía para o junshi.
A estabilidade do século XVIII
O século XVIII foi um período de relativa estabilidade política no Japão. No início, o Bakufu era liderado pelo samurai e mestre de confucionismo Arai Hakuseki (1657-1725), que servira Tokugawa Ienobu, o sexto shogun. Hakuseki procurou controlar a prática administrativa e recuperar um tesouro bastante delapidado. Fez uma revisão dos códigos legais do Bakufu e reformou também as práticas cerimonias e a nomenclatura. Hakuseki era um samurai com uma visão alargada das coisas, ultrapassando as fronteiras do Japão. Tinha uma opinião crítica sobre os mitos nipônicos e tentou familiarizar-se como o que se passava no ocidente através de uma entrevista com o missionário italiano Giovanni Sidotti.
Apesar da estabilidade do século XVIII, verificaram-se algumas mudanças que implicaram novas reformas. O oitavo shogun, Yoshimune (1684-1751), pôs em ação as reformas Kyoho, restaurou as finanças do Bakufu e restabeleceu um controle feudal.
Rejeitando a importância das reformas burocráticas de Arai Hakuseki, Yoshimune seguiu o tipo de reformas de Ieyasu, retomando o governo xogunal direto. Reforçou a frugalidade, criou taxas mais pesadas e impôs uma disciplina nas taxas oficiais, criou impostos para os daimyos, encorajou a reclamção de novas terras, tentou promover oficiais talentosos, reveu o código básico das lei Bakufu, fomentou a construção de escolas e a educação e acabou com a interdição do estudo da cultura ocidental, promovendo estudos de holandês em Nagasaki.
Quem levou a política do Bakufu mais longe, na direção do mercantilismo, foi Tanuma Okitsugu (1719-1788), que estabeleceu uma relação estreita com o capital comercial. O pai de Tanuma era um samurai de média condição ao serviço da família Kii Tokugawa. A política de Tanuma pressionou o desenvolvimento comercial, utilizando o capital comercial na recuperação de pântanos e no desenvolvimento de Hokkaido. No entanto, a sua estreita ligação com os mercadores provocou uma onda de corrupção. Os mercadores ricos tentavam subornar Tanuma, que tinha um poder ditatorial, para lhes garantir privilégios comerciais. Tanuma tentou que o Bakufu se tornasse mais responsável pelas realidades comerciais da época, mas ao mesmo tempo ganhou fama de corrupto.
As reforma Kansei
A partir de 1781, durante cerca de vinte anos de governo Tanuma, o Japão foi assolado por uma série de catástrofes naturais. A colheita de 1785 foi um terço da de um ano normal. Os camponeses abandoram os campos vazios e dirigiram-se ao milhares para as cidades. Mas aí também, devido à escassez, o preço do arroz aumentou e as massas populares viram-se em graves dificuldades. Alguns deles, em desespero, atacavam as casas dos comerciantes ricos e as lojas de negociantes de arroz e saqueavam as cidades.
Em 1784, em várias cidades forticadas, estes tumultos desencadearam-se uns a seguir aos outros. Entre 1780 e 1782 verificaram-se 230 revoltas ao longo do país. A primeira causa foi a sucessão de catástrofes, mas este sofrimento humano e as elevadas taxas em vigor desde as reformas Kyoho não podem ser esquecidos. Os camponeses já não tinham reservas e como continuavam as más colheitas, sentiam fome e desespero.
Nestas circunstâncias, Tanuma Okitsugu caiu do poder. Para o seu lugar foi designado o daimyo Matsudaira Sadanobu, que introduziu as reformas Kansei. O primeiro objetivo era reconstruir as aldeias devastadas pela fome e pela pobreza. O segundo objetivo era auxiliar os samurais, que pouco a pouco iam empobrecendo, através da redução de impostos. Um terceiro objetivo consistia em organizar uma nova classe que estava a surgir, os mercadores. Para atingir o primeiro objetivo ordenou aos camponeses que tinham fugido de suas aldeias que voltassem, tendo sido selecionados deputados (daikan) competentes para dirigirem as terras sob controle direto dos shoguns. Para auxiliar os samurais, perdoaram-se-lhes as dívidas com mais de quatro anos. Os empréstimos que os samurais tinham contraído aos mercadores também ficaram sem pagamento, mas os mercadores que tiveram perdas financeiras recusaram-se a conceder-lhes mais empréstimos. Economicamente, o Bakufu desenvolveu grandes esforços para restaurar as suas finanças, convidando os mercadores mais poderosos a participarem em discussões políticas. Sadanobu tentou controlar a ideologia. Proibiram-se os estudos heterodoxos e tentou-se promover a escola neoconfuncionista de estudos Chu Hsi. Exerceu-se o controle sobre as publicações e suprimiram-se os comentários subversivos sobre a política do Bakufu.
Enquanto este levava por diante as reformas Kansei, muitos daimyos tentavam impor as reformas han. Todos os daimyos haviam contraído grandes dívidas para com os mercadores. Quando os daimyos eram vítimas de bancarrota, davam aos mercadores todo o dinheiro recolhido nos impostos e as economias dos próprios daimyos iam para os salários dos seus servos. Alguns deles, aflitos com a situação, apelaram por medidas de emergência. Em muitos casos, repudiavam as dívidas ou impunham taxas especiais han em produtos como cenoura ou papel.
As reformas Kansei do Bakufu foram parcialmente bem sucedidas e Edo recuperou a sua prosperidade. Nas cidades e aldeias, o cidadão comum tornava-se influente e próspero. Por outro lado, as reformas desencadearam oposição popular e fizeram muito pouco para evitar o declínio do poder do Bakufu e das condições de vida dos samurais. O Bakufu já não exercia grande poder sobre os daimyos. E era tudo que os funcionários do Bakufu podiam fazer para manter uma economia periclitante.
As última reformas
No início de 1840, o Bakufu tentou novamente instituir reformas, através de um grande controle sobre o Bakufu de Kanto, ao redor de Edo, e tornando Edo independente de Osaka, o centro comercial do país. Estas últimas reformas foram efetivadas por Mizuno Tadakuni (1794-1851). As reformas Tadakuni foram um reacerto do controle feudal. Incluía o recurso normal ao cunhar a moeda, a demissão dos samurais oficiais para cortar as despesas, aplicar impostos aos mercadores, acabar com os monopólios dos mercadores, instituir uma certa austeridade, o controle severo da moral e acabar com a discriminação dos grupos de baixo estatuto social.
Tadakuni ainda propôs que alguns daimyos abandonassem os arredores de Edo e Osaka a fim de poder controlar melhor estas cidades.
As medidas Tadakuni provocaram tumultos e a erosão óbvia da disciplina feudal e pareciam não ter fim os protestos contra a política do Bakufu ou as severas medidas econômicas. As reformas Tadakuni provocaram a hostilidade dos daimyos, dos samurais, dos mercadores e do cidadão comum. Muitas das suas propostas eram impraticáveis e muitas delas falharam, originando severas críticas ao Bakufu. Além disso, a situação no exterior era tão negra quanto a do país. Do estrangeiro, o Bakufu recebia notícias desestabilizadoras da guerra do ópio na China (1840-1842) e da crescente intromissão do ocidente nas águas do leste asiático. Os barcos britânicos e russos penetravam nas costas japonesas, mal defendidas. Com a chegada da esquadra do comodoro Matthew Perry, em 1853, estavam criadas as condições para uma crise interna e externa que iria culminar com a derrota do Bakufu, a restauração do governo imperial, a reabertura do país ao estrangeiro e a construção do Japão moderno.