
Para recompensar os seus vassalos, tratar dos despojos e das reivindicações, a fim de estabelecer a justiça e manter a ordem, Yoritomo criou uma série de gabinetes governamentais chefiados por vassalos de confiança ou por nobres de um nível social mais baixo que trouxera de Kyoto. Estabeleceu assim o modelo para futuros governos de guerreiros no Japão. Institui também dois departamentos, o de guerreiros defensores das províncias (shugo) e o de ajudantes militares do estado (jito), colocando deste modo os vassalos em posições privilegiadas nas províncias e nos estados privados (shoen) ao longo do país. O Japão viu assim a criação de uma estrutura dupla de uma autoridade política na qual um regime militar em Kamakura assumia muitas funções até agora encaradas como pertença exclusica da corte imperial. A corte não foi desalojada e continuou a exercer algumas das suas funções tradicionais. Yoritomo instituiu um comportamento xogunal, demonstrando formalmente grande respeito pela corte, ao mesmo tempo que lhe impunha a sua vontade e a controlava.
Como um governo de guerreiros, o Bakufu estava prioritariamente preocupado em manter a disciplina nas ordens guerreiras encabeçadas por Yoritomo e os seus vassalos. Com o tempo, sob a liderança de Yoritomo e dos seus filhos, que tiveram curta vida, e depois sob a liderança de regentes militares Hojo, que estiveram no poder após a extinção de xogunatos Minamoto no início do século XIII, o Bakufu assumia cada vez uma maior autoridade legislativa e judicial sobre os direitos das grandes propriedades, pagamentos de impostos e assuntos legais que afetavam toda a sociedade. Hojo criou um ramo de organismos Bakufu em Kyoto para fiscalizar o oeste do país. Intervinham na sucessão imperial, bem como em assuntos estrangeiros e coube a Hoje Tokimune organizar a defesa do país contra as invasões mongóis de 1274 e 1281. Com um reduzido poder político e econômico e confrontados com a já institucional vitalidade do Bakufu Kamakura, a corte viu a sua autoridade vacilar.
Embora esta fizesse várias tentativas para recuperar o poder político, a sua autoridade encontrava-se em permanente declínio. Em 1221, a guerra de Joku, uma malograda revolta conduziada por partidários do imperador Gotoba, que se encontrava afastado do poder, foi facilmente esmagada pelos Hojo, que lhe conferiu o estatuto dos imperadores exilados; confiscaram mais terras, onde instalaram mais ajudantes militares, puniram os cortesãos e os membros da família imperial. Em 1320, verificou-se uma reação ao controle que a família Hojo exercia sobre o Bakufu Kamakura por parte dos vassalos guerreiros, que se reuniram à volta do imperador Godaigo.
Com a ajuda de Ashikaga e de outras poderosas famílias guerreiras do Japão Oriental, bem como de grupos armados de monges-soldados, Godaigo conseguiu dominar o Bakufu em 1333 e restabelecer aquilo a que chamou o "governo imperial por via direta".
As invasões mongóis de 1274 e de 1281
Em 1268, com a destruição da Coréia e com uma grande parte da China Song conquistada, Kublai Kan (1215-1294), o chefe mongol, enviou embaixadas ao Japão, para submeter "o rei do Japão". A corte de Kyoto e o governo de guerreiros em Kamakura ignoraram estas intenções do chefe mongol e eles próprios se prepararam para uma invasão. Os vassalos dos samurais do Bakufu de Kamakura ficaram em estado de alerta. Os templos e os santuários ofereceram as suas preces em proteção da nação. Finalmente, em novembro de 1274, uma armada de 900 barcos, transportando mais de 44 mil soldados e marinheiros, incluindo mongóis, tártaros, chineses e coreanos, partiu do sul da Coréia. Depois de devastar Tsushima, aportou na baía de Hakata, a 19 de novembro. Após terem forçado os guerreiros japoneses a retirar-se, os mongóis voltaram para os seus barcos. Durante a noite foram fustigados por um terrível vendaval, que afundou os navios e dispersou a armada.
Em 1275 e 1279, Kublai procedeu a novas tentativas. Os regentes de Hojo recusaram-se a receber os seus enviados e ordenaram a construção de postos de defesa na costa, à volta da baía de Hakata, a construção de barcos de defesa para fazer frente aos barcos mongóis e a mobilização de vassalos e não vassalos. Com a queda da dinastia Song en 1279, Kublai encontrava-se livre para dedicar-se à conquista do Japão. Em 1281, iniciou a formação de uma grande armada composta por duas frotas. No princípio de junho, 4400 barcos de guerra transportando 140.000 homens lançaram-se ao mar, partindo simultaneamente da Coréia e do rio Yangzi. Enquanto a armada do sul de atrasou várias semanas, a armada que vinha do leste chegou a Hakata, a 23 de junho e travou várias batalhas com os barcos japoneses. A 16 de agosto, a armada foi destruída por um tufão, que acabou com a metade dos barcos e dizimou grande parte dos homens. Os japoneses atribuíram estes dois acontecimentos milagrosos a "ventos divinos" (kamikaze). Tal fato contribuiu para a crença de que o Japão era uma terra protegida pelo divino (shinkoku). Sem despojos como prêmio dos seus esforços, muitos samurais mostraram-se descontentes. Kublai planejou uma terceira invasão, mas não a concretizou.